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quarta-feira, maio 06, 2009

Fechamento de chaves: o debate continua

Leia o apanhado do que foi sugerido até aqui

O debate ainda está mais do que aberto. Depois do “Manifesto” que escrevi sobre o fechamento de chaves em campeonatos de Jiu-Jitsu, já publicamos a opinião do Jacaré (Alliance), a medida tomada por Carlão Santos, organizador da World Pro JJ Cup (que acabou não efetivada, diante de um apelo de Fabio Gurgel), o contraponto da Gracie Barra, e a sugestão de Felipe Costa.

Afora isso, muitos leitores e personalidades do mundo do Jiu-Jitsu se comunicaram por e-mail sobre o tema. Recebi, na semana do manifesto, 82 e-mails relativos ao tema, além de alguns telefonemas e conversas ao vivo com pessoas do meio.

Em conversa, pelo telefone, sobre outro assunto com um dos principais protagonistas dessa polêmica, Roger Gracie espontaneamente puxou o assunto:

“Li o artigo e todos sabem que sou a favor de haver luta, sempre. Mas vou preparar a minha opinião e te mando”. Prometeu para semana que vem.

No dia 26, encontrei com Márcio Feitosa na 2nd American Cup, em Los Gatos, CA, e debatemos longamente o tema, com a participação de diversas pessoas, entre elas o patrocinador e dono da Jiu-Jitsu Pro Gear, Gilberto Faria.

O artigo da Gracie Barra assinado por Flávio Cachorrinho já expõe de forma clara a posição da equipe sobre o tema mas, num tom mais informal, Márcio colocou em outras palavras seus argumentos:

“Antes dos campeonatos, todo mundo se reúne e troca informações táticas sobre determinado adversário, e estudamos juntos posições para anular ou vencer determinada pessoa. Será que se, dias depois, estes dois atletas que estão estudando juntos, fossem obrigados a se enfrentar, eles se abririam tanto um com o outro? Se isso não acontecer, pode conter a evolução do Jiu-Jitsu”.

Ponderei que o manifesto, ao contrário do que entende a Gracie Barra, não tenta forçar os atletas a se enfrentarem, e nem coloca a culpa nos atletas. Minha preocupação é privar o público de uma final.

“Mas se jogarem os dois para o mesmo lado, é um desrespeito com o histórico do atletas. Porque o Langhi e o Lepri, por exemplo, conquistaram nos tatames o direito de serem cabeças de chave. E se eles não fossem separados, um perderia a chance de ser vice-campeão”, argumentou Márcio.

Solução perfeita não há, dou de ombros. É pesar prós e contras.

Mas o fato é que muita gente está incomodada com o fechamento. E quem pode faz a sua parte. Gilberto disse que as marcas como Jiu-Jitsu Pro Gear, Keiko e Koral já instituíram bônus aos patrocinados por desempenho. Com razão, não querem perder o espaço de expor sua marca.

Preocupado especificamente com a não-realização da luta mais importante, a final mundial do absoluto faixa-preta, o professor 4o grau e árbitro da IBJJF Múzio de Angelis sugere:

“A solução é meio radical, mas acabaria de uma vez por todas com o fechamento: as equipes só poderiam inscrever um atleta no absoluto, aquele que fosse considerado o melhor de cada equipe seria o representante na categoria mais importante do Jiu-Jitsu”.

Luca Lepri ficou chateado que o debate tenha sido puxado justamente após seu fechamento com Rafael Rosendo no The NYC Open: "[Em 2008, Bráulio] Carcará fechou com Rolles [Gracie] no Pan No Gi absoluto e não falaram nada...”, me escreveu por e-mail.

Não foi o caso, porque na edição da competição saiu o fato com explicação por parte do Bráulio, não com tanta ênfase, porque a tendência não estava tão forte como agora, após três fechamentos de chave no Pan 2009 e este no absoluto do The NYC Open. Apesar do caso em questão, Lepri acha que deve ter luta:

“Acho que a ideia é essa mesmo. Tem que lutar, mas tem que partir da equipe, não somente do atleta, porque se não fica parecendo uma atitude arrogante querer lutar com seu companheiro de treino. Entende?”

Entendemos. Entendemos até que realmente é constrangedora a luta. Mas o leitor Gabriel Mascherano pergunta: será que o Comitê Olímpico Internacional entenderia?

“Difícil vai ser convencer o COI que um esporte que é uma luta um contra o outro se trata de um esporte coletivo e não individual, e que caso algum dia o Jiu-Jitsu passe para as Olimpíadas e um americano da GB for para a final contra um brasileiro da GB vai ser normal não ter final”.

É realmente um argumento forte, apesar de estarmos a uma grande distância dos Jogos Olímpicos, e como disse Feitosa, tem muita coisa para melhorar antes: “É como se a madeira da porta estivesse podre e estivéssemos nos concentrando apenas na fechadura. Sinceramente, acho que temos algumas coisas antes para nos preocupar, antes de acabar com o fechamento”.

Para não ser repetitivo e resumir este apanhado geral, organizei todas as manifestações até aqui, e encontrei os seguintes grupos:

1. Os que defendem a ideia do manifesto, dos atletas de mesma academia, caso cheguem na semi (ou antes, alguns defendem nas quartas) se enfrentem ou não por ali, a categoria assim tendo final obrigatoriamente (a maioria até aqui);

2. Os que são contra, pois o fechamento é cultural, e um atleta tem o direito, pelo que já fez, de ser cabeça de chave;

3. Os que defendem que cada academia só deveria poder colocar um atleta por categoria (alguns sugerem no absoluto, outros em todas as categorias);

4. Os que acham que é questão de conscientização e não de regras ou sistema, e que um mutirão resolveria;

5. Os que acham que para ter luta deveria ter premiação em dinheiro (apesar de diversas lutas no ADCC mostrarem que o dinheiro não impede o marmelo);

6. A ideia do Felipe Costa de instituir a disputa pelo terceiro lugar, que garantiria uma disputa final ao menos (ou a final, ou a pelo terceiro lugar).

De todas, achei a do Felipe a mais original. Mas, novamente, o debate ainda está em andamento.
Fonte GracieMAG

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