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sábado, maio 09, 2009

Entrevista com mestre Candoca

Confira a entrevista exclusiva ao Brasil Combate com um dos pioneiros do Jiu Jitsu paulista, Cândido Casalle, mais conhecido como Mestre Candoca, recebeu em Março de 2008 pela Federação Paulista de Jiu Jitsu a graduação de faixa coral (vermelha e preta) 8º grau.

Testemunha de uma época onde a Arte Suave era tida acima de tudo como um sistema de defesa pessoal, Mestre Candoca ensina que as novas gerações do Jiu Jitsu não podem desvirtuar essa premissa.

Brasil Combate: Quando e como o senhor entrou no mundo das artes marciais?
Mestre Candoca: Na verdade eu comecei na luta livre por volta de 1942 em São Carlos-SP. Eu devia ter uns 20 anos e treinava somente eu e mais três lutadores. Num determinado treino, um deles quebrou uma costela numa queda e os treinos foram temporariamente encerrados. Passei então a praticar Judô (Meste Candoca é também faixa Preta de Judô 1º dan).

Brasil Combate: Como foi que o Sr. começou a treinar Jiu Jitsu?
Mestre Candoca: Após uns quatro anos, me mudei para Rio Claro e comecei a treinar com João Gonçalves “Peixinho”, que era aluno do George Gracie. O George dava aula também, mas já estava passando os alunos para o Peixinho. Treinei com eles três anos. Por volta de 1957, o George mudou-se para São Carlos, inclusive fui eu quem fez a mudança, pois eu trabalhava com caminhão e era mecânico também. Após uns dois anos, o George mudou-se para Araraquara, onde abriu uma academia. Ele mantinha aulas em Araraquara, São Carlos e Jaú. Nessa época eu também havia retornado para Araraquara e continuava com as aulas.

Brasil Combate: Como eram as aulas?
Mestre Candoca: A luta começava em pé e havia uma parte forte de defesa pessoal. Inclusive as aulas de defesa pessoal eram tão apreciadas que havia um padre em Jaú que era aluno do George. Em Araraquara eu peguei uma grande amizade com o George. Ele tinha um DKW eu cuidava da manutenção do carro dele e dessa forma eu não pagava mais as mensalidades e ele não me pagava os consertos (risos). As minhas aulas eram individuais e ele vinha na minha casa, a mesma onde moro até hoje.


Brasil Combate: Quando o Sr começou a dar aulas?
Mestre Candoca: Quando o George saiu de Araraquara e foi para Catanduva, eu montei minha academia e apesar do Jiu Jitsu ser muito desconhecido e o Judô estar se desenvolvendo mais, tive muitos alunos. Tanto que cheguei a ir para o Rio de Janeiro e levar quatro alunos para um campeonato lá. Conheci a academia Gracie, o Carlos, o Carlson e todos os professores.

Brasil Combate: O senhor chegou a lutar vale tudo?
Mestre Candoca: O Jiu Jitsu era mais voltado para a defesa pessoal e inclusive eu sou contra o vale tudo que se pratica na atualidade. Acho uma violência desnecessária e que cria uma competitividade que não é saudável. No Jiu Jitsu eu treino com o adversário, mas ele passa a ser meu amigo.

Teve um episódio em Rio Claro, na academia do João Gonçalves “Peixinho”, onde um grupo de lutas telecatch de São Paulo, famosos por lutas marmeladas, desafiaram os lutadores de Jiu Jitsu. Foram aos jornais e fizeram um estardalhaço, mas na verdade ele nos proporam armar lutas combinadas. O Peixinho negou e disse que nós só lutaríamos de verdade. Marcaram uma luta entre o Wandão, Adhi, Peixinho e Abdalla do Jiu Jitsu contra adversários do telecatch.

Na luta do Peixinho, ele aplicou uma chave de braço num tal de Tigre, que era campeão de braço de ferro. O Tigre, mesmo com a chave encaixada, levantou o peixinho do chão e não bateu. Mas mesmo não finalizando, o Peixinho chutou muito e o Tigre acabou no hospital de Rio Claro.

O Wandão pegou o Lobo e deu-lhe umas quatro pancadas que o fez fugir do ringue. O Wandão pulou atrás e virou um tumulto. O juiz então interrompeu a luta.

Lutei em São José do Rio Preto pelo time do Nahum Rabay, que tinha poucos alunos e eu fui para representar o Jiu Jitsu. Além dessa, o George Gracie organizou uma vez em Catanduva um desafio chamado de FORÇA X TÉCNICA e os estivadores da cidade foram convidados a lutar. Eu lutei contra um carregador de sacos de uns 100kg que chamava-se Caio. Eu vendo o tamanho dele, vi que teria que resolver logo e apliquei uma chave de pé fazendo-o desistir.

Brasil Combate: O senhor mantém academia ainda?
Mestre Candoca: Fechei a academia em 2006 e hoje dou aulas só para meu neto que tem 14 anos. Tive dois filhos que praticaram Jiu Jitsu e um deles, o Antonio Carlos, deu aulas em outra academia em Araraquara. Ele só parou porque sofreu um acidente de carro e teve algumas seqüelas.

Brasil Combate: E os campeonatos da época?
Mestre Candoca: Havia poucos campeonatos e somente em São Paulo. Eu participava com meus alunos no interior e, além da minha equipe, posso citar o Borges de Campinas, o Gonçalo de Limeira, o Romeu Bertho de São Carlos e Nahum Rabay de Catanduva que eram outras escolas que se destacavam.

Brasil Combate: Que lutador o senhor poderia citar como o maior de todos os tempos?
Mestre Candoca: Pedro Hemetério foi um grande lutador. E claro, todos os irmãos Gracie que foram foras de série. Na década de 60 eu estive fazendo um curso de mecânica no Rio de Janeiro e pude treinar na academia do Carlson Gracie e pude constatar que ele foi um fenômeno.


Brasil Combate: Como o senhor analisa o Jiu Jitsu atual?
Mestre Candoca: Houve uma grande expansão depois que as federações foram fundadas, porém essas mesmas federações criaram um grande problema também que é a falta de critério para graduações de faixas. Hoje, qualquer um paga as taxas e através de politicagem consegue uma graduação de faixa preta.
Fonte BrasilCombate

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