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terça-feira, fevereiro 10, 2009

A vitória do Carcará

'Pensaram que eu estava morto'
Bráulio Estima não conseguiu deixar o kimono de lado nas férias de janeiro, mesmo depois de uma extensa e bem-sucedida carga de torneios em que competiu. Em 2008 foram duas dobradinhas, que totalizaram 4 medalhas de ouro (peso e absoluto): duas no Pan Sem Kimono em Nova York e mais duas no Capital Challenge da Jordânia.
Descansando em Recife, sua cidade natal, o Carcará, que mora há seis anos na Inglaterra, pensava em ficar de bobeira, curtindo uma praia com a família, um churrasco e só. Acontece que quando viu, estava treinando todos os dias no clima quente nordestino, sob a supervisão do Zé Radiola, que o encorajou a competir no Europeu de Jiu-Jitsu. Foi o incentivo que faltava. Bráulio se inscreveu no último dia e o resultado foi mais duas medalhas.
Na entrevista a seguir, o pernambucano conta como foi a participação no Europeu de Jiu-Jitsu e como Alexandre Sousa conseguiu escapar de um surpreendente e arrochado triângulo. “Cara, todo mundo me perguntou como que o Alexandre saiu daquele triângulo, que tava no pau. Bicho, na hora não passava nada na minha cabeça, a não ser ‘terminar o serviço”.
Você foi o destaque no Pan Sem kimono em Nova York (peso e absoluto), depois outra dobradinha no Capital Challenge na Jordânia, agora veio o Europeu e você mais uma vez faturou o absoluto e o peso. O que tem na água que o Carcará vem bebendo?
Na verdade, eu considero esses resultados parte de uma trajetória que estou fazendo na volta ao ritmo de alto nível de competição. Fiquei parado um ano, mas antes de me machucar havia ganhado a Copa do Mundo 2006 na categoria absoluto e ganhei o meu peso no Mundial de 2006. No Europeu de 2007 ganhei categoria e absoluto, e fiz a melhor luta do ADCC 07, contra o Xande na final (-99kg), com apenas 88kg. Depois de um ano, muitos pensaram que eu estava morto. Mesmo tendo chegado à final do Mundial, quatro meses depois da cirurgia, contra o André Galvão, em 2008, não era o mesmo Carcará. Mas dei uma ênfase à recuperação e ritmo de competição, e esse foi o resultado. Estou de volta nas mesmas condições e nível que tinha antes de me machucar. A sede de votar a lutar como antes e a determinação pra que isso acontecesse, fora o apoio de muitos, foram os principais motivos que me fizeram voltar a vencer.
Como está se sentindo com a sequência de vitórias, e como busca trabalhar para que elas não subam à cabeça?
Estou me sentindo muito bem, feliz, na pilha e confiante no trabalho que venho fazendo nas minhas preparações. Sempre fui um cara muito focado e pé no chão. Odeio máscara e arrogância. Uma das principais virtudes que defendo como filosofia de vida, e que acho que um verdadeiro campeão tem, é a humildade. Não existe nem perigo dessas vitórias me abalarem, até porque competição é dia. Nunca se sabe como vai ser o próximo campeonato, mesmo que seja uma semana de diferença. O negócio é treinar duro pra estar sempre preparado no dia da competição.
Em recente entrevista ao GRACIEMAG.com você disse que no Capital challenge se sentiu em plena forma. Como se sentiu no Europeu?
Depois da Jordânia passei o natal em casa (Birmingham, Inglaterra) e fui passar o réveillon em Recife. Estava de férias e queria curtir com a família, praia, churrasco e tal. Mas estava indo treinar sempre pelo menos por uma hora de segunda a sexta na academia. Acabou que meu instrutor, Zé Radiola, falou: ‘bicho tu tá bem. Vai que tu só tem a ganhar’. Aí ouvi o Zezão e me inscrevi no último dia. Acho que os treinos descontraídos no calor de Recife, nessa época do ano, fizeram eu abrir o pulmão. E a vontade de lutar pra voltar ao ritmo, sem aquela pressão de que tem que ganhar, fez meu Jiu-Jitsu fluir. Não preciso provar nada a ninguém. Eu quero ir ali, curtir e aproveitar o momento de adrenalina de disputa estratégia. Isso não tem preço.
Como foram as suas lutas no Europeu? Destacaria alguma?
As minhas lutas foram todas muito boas de acordo com cada adversário que tive. A minha luta com o Yan Cabral foi interessante, ele tem uma guarda excelente e consegui passar e peguei no braço. O Tiago Monstro tem uma base de monstro, como diz o nome. Consegui raspar e pegar no braço. O Telles tem um jogo diferenciado o ‘esquijitsu’ (risos) e defende como ninguém as costas, consegui raspar, passar, montar e pegar as costas. Com o Alexandre Sousa a luta já foi bem mais travada, ganhando nas vantagens a primeira final e mais tarde por pontos na final do absoluto. Uma situação curiosa foi o que aconteceu na final do absoluto. Cara, todo mundo me perguntou como que o Alexandre saiu daquele triângulo, que tava no pau. Bicho, na hora não passava nada na minha cabeça, a não ser ‘terminar o serviço’, mas de repente ele se solta. A parada foi que eu tinha feito uma massagem entre as semifinais e as finais, então minhas pernas estavam muito oleosas, e não me toquei que poderia me afetar, até por que me preocupei mais com os pés em termos de fechar a guarda, daí coloquei uma bandagem onde tinha um atrito. Nisso, estava tudo tranqüilo, mas na panturrilha estava que nem sabão, e como no movimento do triângulo a calça subiu pro joelho e ficou canela com panturrilha, e daí escorregou, foi tudo. Nuca aconteceu isso comigo, estava muito encaixado! Nunca façam massagem entre ou antes as lutas.
E nas outras lutas do Europeu, algum atleta te surpreendeu com o estilo de jogo?
O [Michel] Langhi pra mim se destacou bastante. Um cara maneiro, humilde e com uma guarda intransponível. Inacreditável como ele não esquenta com a pressão do adversário. Muito controle. A melhor luta dele foi contra o Alexandre Sousa na outra semi.
Como projeta o ano de 2009?
Eu quero ganhar tudo esse ano. Estou confiante, mais dedicado e experiente. Aprendi bastante nesse ano parado e estou botando em pratica e aprendendo diariamente nos treinos. É impressionante o quanto a gente tem pra melhorar e como sou um cara crítico e detalhista. Aí é pior ainda. O meu foco principal é o refinamento do meu Jiu-Jitsu. Estou na minha primeira ‘pós-graduação’, diria.
Tem alguma meta específica?
Minha meta pra esse ano no esporte é aprender mais e fortalecer o meu jogo adicionando coisas novas. Todo ano eu modifico um pouco a minha forma de lutar. Nesse Europeu já lutei bem diferente. Já ganhei tudo que tem aí, faltando só o absoluto da CBJJ. Estamos nessa disputa também. O Abu Dhabi com certeza seria a meta do ano, mas acho que o mais difícil, com certeza, vai ser a mudança quando o bebê chegar (risos) Vamos ver quantas noites de sono vão ser afetadas (risos).
Fonte GracieMAG

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