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domingo, julho 05, 2009

Raphael Abi-Rihan

Campeão peso e absoluto no Estadual carioca e Europeu em 2007, Raphael Abi-Rihan ficou afastado das competições em 2008 devido a uma grave lesão sofrida na coluna. Os médicos chegaram a condenar a volta do atleta às competições, que retornou de maneira avassaladora, tornando-se campeão brasileiro (CBJJ) em uma campanha impecável, finalizando Tarsis Humphreys, que vinha de uma grande conquista em Abu Dhabi, no Mundial Profissional, com um justíssimo arm-lock. Em conversa com a TATAME, o faixa-preta falou sobre sua carreira de professor e lutador, a contusão na coluna, a conquista do Brasileiro, a inspiração em Carlson Gracie, a situação da arbitragem atual e o futuro do Jiu-Jitsu profissional.

Gostaria que você falasse um pouco do seu início no Jiu-Jitsu. Quem foi o grande incentivador?
Eu comecei a treinar Jiu-Jitsu em 1988, quando eu tinha sete anos de idade, com o professor Kiko Veloso, da Carlson, por influência de alguns amigos, mas não fiquei apaixonado logo de cara, fiz mais porque a rapaziada começou a fazer. Meu pai sempre me incentivou muito, e eu fui continuando até a faixa-laranja, com 12 anos, quando eu parei de treinar por causa do colégio. Dei uma parada com os treinos, acho que ali eu ainda não sabia muito bem o que era. Com 15 anos, retomei o Jiu-Jitsu e comecei a entender realmente o que era. Minha família continuou incentivando muito e voltei para o Kiko Veloso, onde peguei a faixa azul e roxa, quando, entre 1999 e 2000, houve uma união com o professor Luis Carlos Maninal, também do Carlson, e eu passei a treinar com os dois. Com o tempo, o Kiko foi se afastando da academia e eu comecei a treinar mais com o Maninal, que é um apaixonado pela arte, vibra, ama o Jiu-Jitsu. Eu estava mais focado em competições, daí peguei a faixa marrom e depois a preta, em 2002.

Por que você mudou um pouco o foco de sua carreira, privilegiando ser professor a competidor?
Comecei a dar aula por hobbie, porque eu gostava. Quando vi que o lado de competidor estava atrapalhando minhas aulas, que o negócio estava crescendo, consegui ter o meu próprio espaço no Monte Líbano, em 2004, então decidi privilegiar o meu trabalho de professor, pois vi que eu poderia desenvolver um plano de carreira. A partir daí, comecei um trabalho aqui com o foco diferente do que eu vinha fazendo antes, focando mais na minha equipe, como uma grande família, princípios básicos como equilíbrio, lealdade. Então o Jiu-Jitsu competitivo ficou sendo apenas uma parte do nosso trabalho. O Jiu-Jitsu família, essa reunião diária que nós promovemos aqui, é o fator, o motivo principal do nosso treino. A gente procura treinar, confraternizar, evoluir espiritualmente, mentalmente e, quem sabe, ocorrendo uma evolução física natural, os resultados bons em competições acabam vindo. A minha academia, graças a Deus, vem colhendo resultados excelentes nos últimos três anos. Em 2007, eu tive bons resultados, em 2008 eu sofri uma lesão gravíssima e acabei não competindo, mas pude fazer vários alunos campeões brasileiros e estaduais.

Você ficou um tempo parado devido a uma contusão séria na coluna, os médicos chegaram a condenar sua carreira como lutador. Você está 100% recuperado?
Eu não digo que eu estou curado, mas digo que a lesão que eu tenho está controlada. Eu venho treinando pesado e minha preparação física está muito bem planejada. Sofri algumas limitações no meu Jiu-Jitsu, que eu já adaptei e acredito que hoje estou com meu preparo físico muito bom, me sinto mais potente do que há algum tempo atrás. Em relação aos médicos, quando eu tive essa contusão, não conseguia me mexer direito, não conseguia andar, estava muito mal. Os primeiros quatro médicos que eu fui eram muito conceituados e queriam fazer uma cirurgia na minha coluna, falaram que eu nunca mais ia poder fazer esforço intenso, então eles achavam que eu deveria me dedicar mais à minha carreira de professor, porque lutar “à vera” realmente ia ser difícil, pela gravidade da minha lesão.

E você provou que não era verdade, finalizando quatro de suas cinco lutas no Brasileiro, incluindo o Tarsis, campeão do Mundial Profissional, na final. As pessoas que estavam presentes no Tijuca Tênis Clube comentaram que você estava com uma energia diferente, que parecia possuído… Qual a importância dessa vitória para você? O espírito do Carlson lhe inspirou?
É verdade... Naquele dia do Brasileiro, as pessoas me olhavam e comentavam que eu estava “possuído”, mas essa palavra eu nem gosto. Eu estava muito inspirado, pois tinha muita gente por trás de mim acreditando, vibrando comigo naquele momento. A equipe estava bem motivada e eu tive a torcida de muitas pessoas, antigos professores, amigos, alunos, então senti uma energia espiritual boa, muito forte, e acho que isso influenciou diretamente na minha vitória sobre o Tarsis, que dispensa comentários e que é o número um da categoria, juntamente com o Rômulo Barral. Acho que o resultado positivo foi graças à energia que a galera me passou e ao brasão do Carlson que eu carrego nas minhas costas, isso influenciou muito. Era a minha chance de representar isso tudo, mostrar que o espírito de guerreiro do Carlson Gracie ainda está vivo em nós.

O Abi Rihan de 2007, campeão europeu, está de volta?
Eu acho que eu estou mais maduro do que em 2007. Acho que, em 2007, eu era muito brabo, agora estou mais consciente. Consegui um equilíbrio entre a brabeza e a consciência. Antigamente, eu era muito mais aguerrido e lutava muito mais na conta do preparo físico, hoje procuro equilibrar o preparo físico com a técnica, a experiência, a maturidade, espiritualidade, consigo me desapegar de certos sentimentos antes das lutas, algo que eu não conseguia fazer há um tempo atrás, devido a certas vaidades. Consigo canalizar todos os sentimentos que estiverem passando na hora, seja de amor, de ódio, expectativa, para poder me sair bem e servir de exemplo para quem me segue. Continuo no circuito, sem pressão de competição, mas sempre querendo ganhar.

Como árbitro, o que você acha do nível da arbitragem atualmente? Como você vê a profissionalização do árbitro?
O que acontece hoje é que existe um seleto grupo de árbitros formados pelo professor Álvaro Mansur, que são árbitros excelentes, e tem umas pessoas boas que estão se formando agora. Acredito que as criticas são exageradas. 90% dos que criticam não fizeram curso de arbitragem, lêem o regulamento na internet, mas nunca fizeram um curso ou tiveram uma vivência pratica e se sentem no direito de reclamar. Acho que todos tem o direito de torcer, mas reclamar, fazer uma ocorrência, as pessoas tem que ter o mínimo de propriedade.

Às vezes, vejo um aluno meu perder e não concordo, mas não posso reclamar porque no momento estou muito envolvido. Vou torcer, mas nunca xingar, reclamar ou buscar a comissão técnica para punir esse árbitro. Aquele cara, naquele momento, sabe mais do que eu, porque ele está estudado e concentrado para aquela luta. Falando como árbitro, acho que a profissionalização é o caminho e a Confederação está cada vez chegando mais perto disso. Acho legal a iniciativa de se fazerem clínicas de arbitragem, acho que é algo que está muito próximo de acontecer e que, com certeza, vai elevar ainda mais o nível de arbitragem.

E a profissionalização do Jiu-Jitsu. O que você acha que falta?
Acho que é só uma questão de tempo. Hoje eu vejo atletas ganhando uma boa grana, sobrevivendo do Jiu-Jitsu. Não é o meu foco, mas eu acho legal. Tenho visto competições premiando em dinheiro, como no Mundial Profissional, que foi o maior exemplo disso. Acho interessante a premiação em dinheiro para os faixas-pretas, não para as categorias de base, porque acho que até a faixa-marrom o Jiu-Jitsu tem que ser entendido de outra forma. Eu só tenho medo de que esses atletas profissionais, que muitas vezes não estudaram e procuraram outra saída, fiquem esquecidos depois, pois tiveram uma carreira de sucesso, com títulos, mas não propagou aquilo ali. Acabou a vida útil de atleta, acabou para ele. Esse é o meu grande medo, mas, de resto, eu admiro a garra de um competidor de arrumar patrocínio, vencer obstáculos, ganhar uma grana.
Fonte TATAME

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