"O tempo varia conforme as necessidades de cada um. O importante é aprender a confrontar o estresse e melhorar, sempre, como ser humano. Vejo muita semelhança entre a luta e a vida. Uma grande sabedoria é saber transferir tudo que se aprende na luta, para a própria vida". (Rickson Gracie)
"As artes marciais tornam-se um alicerce para que a pessoa consiga desenvolver o seu máximo em todas as áreas; além da espiritualidade e auto-confiança. Senso de superação das limitações é fundamental para a formação de um homem". Foi assim que começou a entrevista, ou melhor o bate-papo com Rickson Gracie e seu filho, Kron, à Revista Faixa Preta.
Morando em Los Angeles há dezoito anos com seu filho, que atualmente é faixa marrom, Rickson acompanha; apóia e incentiva o filho nessa carreira. Kron não esconde o desejo de, um dia, ingressar no Vale-Tudo. Na América, Rickson tem sua academia e Kron, além de treinar muito e competir, também dá aulas de jiu-jitsu.
Com um cartel de onze lutas e onze finalizações (no último mundial e no campeonato da CBJJO), Kron contou, que sempre buscou o jiu-jitsu e não a finalização. "Gostei de honrar minha família. Eu luto do jeito que luto, busquei a posição e a finalização veio."
Que lutador não gostaria de ter um pai como Rickson Gracie? Como se sabe, muitas vezes, a relação entre pais e filhos não é nada fácil. Rivalidades à parte, no caso da família Gracie, a criança já nasce, praticamente, no tatame e por questões de tradição, antes mesmo de aprender a andar, já começa a treinar. Perguntei ao Rickson se ele costuma resolver divergências com o filho sob os tatames e ele respondeu: Não, de jeito nenhum (risos!). Os problemas são resolvidos através do diálogo.
"A minha expectativa, em relação ao meu filho, é silenciosa. É preciso respeitar as escolhas dele. Eu teria que aceitar se ele tivesse resolvido, por exemplo, ser músico ou escolhesse outra profissão. A gente procura dar de melhor aos filhos, para que vivam suas próprias vidas", afirmou Rickson. Mas pelo visto, Kron resolveu seguir mesmo os passos do pai: "eu treino e surfo; trato meu pai como pai e acho horrível perder pra ele, mas existe um sentido de ajuda mútua." Quando foi indagado sobre se era uma boa idéia fazer o mesmo que o pai faz, ele disse: "sempre quis fazer o que meu pai fazia e minha família também".Entrevistá-lo, na ocasião desta entrevista ambos estavam no Brasil, é um prazer quase inenarrável. Um ícone da luta; um samurai; um ídolo pra muita gente? Certamente. Mas um fato muito curioso é que na família ninguém foi obrigado a treinar. Segundo Rickson, o jiu-jitsu é apaixonante devido a noção de auto-conhecimento que ele proporciona. Para ele, a beleza do jiu-jitsu é que você não consegue se esconder, pois ele te expõe. "É uma conferência única, você conseguir expor o melhor de si. O jiu-jitsu funciona como um medidor", declarou.
Ao falar sobre espiritualidade, Rickson mostrou-se super a favor do desenvolvimento espiritual. Em sua opinião, para que o lutador seja completo é preciso haver um crescimento na parte filosófica e espiritual. A combinação é complexa e estratégica. Uma coisa é certa, com a modernidade os treinamentos dos competidores estão muito eficientes, mas é preciso juntar as coisas: a parte técnica, filósofica e espiritual.
Rickson foi um dos precurssores do jiu-jitsu, nos Estados Unidos, e um dos responsáveis pela popularização do esporte. Para ele, a abertura internacional foi extremamente natural e quando vê o crescimento que o jiu-jitsu vem conquistando, se enche de orgulho e declara que tudo isso está dentro de suas expectativas. Já tendo lutado vários vale-tudo, Rickson não nega a superioridade do jiu-jitsu em relação à outras artes.Quando perguntado sobre a idade, Rickson foi incisivo: "Estou muito novo para continuar aprendendo e velho o suficiente para saber alguns truques". E em relação ao Brasil e brasileiros foi enfático ao dizer que adora o Brasil e que o brasileiro é muito espontâneo e talentoso.
Tanto filho quanto pai, são adeptos de uma alimentação de qualidade e afirmam que fazem, em média, de seis a sete refeições por dia. "Como muito e muitas vezes ao dia e a quantidade é grande mesmo", afirmou Kron. Para seu pai, que é adepto da dieta Gracie, porém com algumas adaptações, é preciso respeitar seu corpo e procurar alimentos que sejam importantes para o seu metabolismo.
Rickson acredita que as artes marciais, em geral, são excelentes para o ser humano e que é de fundamental importância para tornar a pessoa mais equilibrada; confiante; tolerante. Ou seja, as decisões que precisam ser tomadas, são mais bem acertadas. Quando foi perguntado sobre a idade para começar a treinar jiu-jitsu, ele foi categórico: "Não existe regra para começar. O tempo varia conforme as necessidades de cada um. O importante é aprender a confrontar o estresse e melhorar, sempre, c omo ser humano. Vejo muita semelhança entre a luta e a vida. Uma grande sabedoria é saber transferir tudo que se aprende na luta, para a própria vida", declarou o mestre Rickson.
Sem sombra de dúvidas, todo mundo sabe que para ser um atleta é preciso paciência; persistência; garra; força de vontade e outras coisas mais, como uma ajuda da genética e disposição para não esmorecer. Mas para Rickson Gracie, as artes marciais aumentam o senso de fraternidade de cada um. Não é novidade para ninguém, que ele adora o surfe e pratica também exercícios de força como musculação, além de gostar de nadar; correr; alongar e praticar yoga.
No mais, fica a mensagem e a lição de quanto vale a participação de um pai na vida de um filho. Acompanhar; escutar e saber das dificuldades dos filhos deveria ser obrigação de todos o pais. Quando se fala que dinheiro não resolve tudo, etc., etc., podemos perceber que vale mais um bom exemplo a ser seguido que qualquer coisa que o dinheiro pode comprar. E isso, com certeza, esse paizão tem de sobra: amor enorme pelo filho e vice-versa.
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